terça-feira, novembro 03, 2009

Bandeira branca, amor

Irremediavelmente sem forças. A própria personificação moderna da figura épica que era detentor de tamanha força mesmo antes de nascer, pois irrompera de dentro de mulher estéril e veio a tomar forma de um homem magnífico digno de ter seus feitos mantidos à posteridade no livro dos Juízes: Sansão.

Certa vez rasgara um leão moço ao meio, acabara com um exército de homens e também com uma imensa construção usando seus próprios braços. Sua força era dada por seu deus e mantida por este desde que permanecesse a cultivar suas madeixas. Após apaixonar-se e confiar em Dalila, esta o levou à perdição e morte.

Este não é um bilhete póstumo, seu corpo não está morto. Entretanto, sua alma está caminhando vestida de branco segurando suas havaianas em uma das mãos à beira de alguma praia bonita digna de final de filme, está de licença médica do serviço. Enquanto isso, prega peças a si próprio: raspou todos os cabelos de sua cabeça. O Sansão pós-moderno dos confins do Rio de Janeiro incorporou sua algoz e invadiu a história de outra personagem e jogou-se à cova dos leões. Abriu mão de sua força, abortou a fuga e sucumbiu à pena do tempo. Seus advogados acreditam que ele sairá em breve devido a seu bom histórico e se deveras apresentar bom comportamento.

Seus conhecidos mal o reconhecem sem seu arranjo capilar, seus amigos, e ele próprio, o confundem com o leão que outrora fora rasgado ao meio.

Em uma tarde preguiçosa de sol morno e vento leve, daqueles que nos dizem que só pode ser domingo, em pleno dia de finados, Sansão que cansara de fazer a parte de Judas contra si próprio, em seu último ato relembra Dalva de Oliveira. Diz a seu coração que não pode mais, ergue bandeira branca e pede paz.

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