“Ah... olha que tragédia menina, fulano filho de Mélvio bateu de moto e morreu. Tão inteligente o rapaz! Um garoto bonito, forte! Que tragédia!” – Agora vem cá, quer dizer que se o moleque fosse feio, burro e sem graça não tinha problema? A tragédia é o desperdício então? Porque do contrário não teria sentido o comentário das colegas de classe: “Olha, menina que desperdício, aquele gatinho lá da faculdade, inteligente, forte, alto e lindo... gay! Gay até a ponta dos cabelos! Ah... eu com um daqueles... ia fazer virar homem rapidinho!”.
Aí a gente ouve aquela galera despretensiosamente disparando: “Ah, o que vale é o interior...” - Gente, já parei de comer Kinder ovo faz tempo. Aquilo ali que o que valia era o interior! Pera lá, a surpresinha era ótima, mas não vinha embrulhada em papel higiênico! Tinha aqueles desenhos de gente com dentes extremamente brancos provando do maravilhoso chocolate ao leite kinder (ah... bons tempos... kinder ovo um real... enchia as estantes de leõezinhos, tartaruguinhas... cagava a mão toda... isso quando não colocava o chocolate correndo na geladeira pra poder desfrutar da surpresa...).
Enfim... No que tange à inerência da beleza, quem somos nós, reles, para discordarmos de Vinícius! A pessoa pode ser um amor, um gênio, mas haverá raríssimas situações em que encontrará uma alma sexualmente ativa e parceira em potencial predisposta a ouvir o que o fofinho tem a dizer sobre Nietzsche, Wilde, Kelsen e ficar caindo de quatro sem que o livro-ambulante conte com um layout no esquema. Já disseram que se só falar bastasse, Fidel seria o maior comedor da praça, mas prefiro um aforismo bola-gato que diz que “é facílimo dissimular a sabedoria, mas é quase impossível ocultar a ignorância” – Sem necessidade de demonstrações óbvias, ambas são exaladas involuntariamente pelos poros da personalidade.
Quem mantém uma cortina de ignorância ou não tem uma mente privilegiada, dificilmente é passível de mudanças provenientes de críticas ou conversas proveitosas. Por tanto, pra que sair falando de carecas velhos e chatos em tempos em que sexo virou o assunto banal favorito da massa? As pessoas se identificam por experiências e meios em comum. Quem não sabe o que e como é o sexo? Mas tá vendo como as coisas mudam: Hoje todo mundo sabe que bom mesmo é comer só o chocolate, e nada de surpresinha saindo de kinder ovo depois de nove meses!
