quinta-feira, novembro 26, 2009

Presunção desregrada

Da última vez terminei a postagem lançando uma modesta crítica ao dizer que estava a encerrar de forma luftiana porque fico apreensivo quando leio os textos dela, Lya Luft, e percebo de canto de olho que está próximo de terminar e ao chegar ao derradeiro momento parece que me tomaram o prato de comida no meio da refeição! Mas, afinal, quem é Lya Luft?

"Não existe isso de homem escrever com vigor e mulher escrever com fragilidade. Puta que pariu, não é assim. Isso não existe." - essa é Lya Luft.

Conheceu seu primeiro marido aos 21 anos, ele tinha 40. Teve três filhos. Dos 25 aos 47 anos foi casada com Celso Pedro Luft. Separou-se dele em 1985 e foi viver com o psicanalista e escritor Hélio Pellegrino, que morreu três anos depois. Em 1992 voltou a casar-se com o primeiro marido, de quem ficou viúva em 1995.

Textos amenos. Uma espécie de fingimento de que na vida tudo é bom. A morte é encarada como uma coisa normal. Mas gostaria que todos os seus amigos fossem eternos. Mesmo assim, acha a morte uma coisa mágica.

A escritora é conhecida por sua luta contra os estereótipos sociais. "Essas coisas que obrigam as pessoas a ser atletas. Hoje é quase uma imposição: a ordem é fazer sexo sem parar, o tempo todo. A ordem é não fumar, não beber. É essa loucura o dia inteiro na cabeça. Quem não for resistente acaba enlouquecendo. E a vida fica para trás. Hoje as pessoas estão sofrendo muito. Um sofrimento absolutamente desnecessário. Especialmente as mulheres que fazem plástica logo que vêem uma ruga no rosto. Plásticas de inteira inutilidade. E isso também inclui a febre atual da mídia, particularmente nas revistas femininas. Só se fala como se pode ter vários orgasmos numa única noite. Só se fala em como a mulher deve agir para segurar seu homem pelo sexo, especialmente o oral. São fórmulas de um mundo conturbado, que foge ao afeto, distante de qualquer felicidade. Essa é outra coisa para o enlouquecimento. Em todo lugar, o que existe é a supervalorização do sexo. Quem não estiver fazendo sexo sem parar o tempo todo passa a ser anormal. Muita gente fica complexada porque não consegue vários orgasmos numa noite. É tudo uma imposição."

"Tento entender a vida, o mundo e o mistério e para isso escrevo. Não conseguirei jamais entender, mas tentar me dá uma enorme alegria. Além disso, sou uma mulher simples, em busca cada vez mais de mais simplicidade. Amo a vida, os amigos, os filhos, a arte, minha casa, o amanhecer. Sou uma amadora da vida." Quem não merece respeito algum de ninguém?-lhe perguntaram- "Todos merecem algum respeito, no mínimo compaixão".

"Normalmente produzo mais de manhã bem cedo. Gosto de ver o dia nascer, aqui na minha mesa de trabalho e do meu computador". Bem, se você ainda não exergou a Lya Luft que existe em mim, pode vislumbrar uma pequena parte ao simplesmente tomar nota do horário que escrevo aqui.

Esses Beatles ...

Digo que fico perplexo com coincidências porque são tantas coisinhas que acabam, redundantemente, coincidindo que você para pra pensar e resolve escrever!

A última foi numa tarde em que eu estava fazendo nada, minha sobrinha ligou a televisão e colocou em um canal de esportes. O cara começou a falar de seleção brasileira, jogadores brasileiros que jogam fora do Brasil, jogadores que estão na Inglaterra, Fábio Aurélio... que joga no Liverpool e mora em um condomínio de mansões atrás de Strawberry Fields. Daí começaram a falar dos Beatles. Não sei da onde eu tirei, mas associei uma coisa à outra e procurei pela letra de "Dezesseis" do Legião Urbana e lá estava o elo perdido! Aquele trecho da música em que todo mundo nas rodinhas de violão canta "istró bé with you, foreveeer", descobri o danado!

Me sinto envergonhado por ainda falar que curto Beatles, mas feliz ao mesmo tempo por ainda descobrir coisas novas de uma fonte que não pode produzir mais nada.

Ia dizer que agora você me perguntaria "e o que que eu tenho a ver com isso?", mas foi um exemplo banal, com certeza já aconteceu algo parecido contigo. Detalhes são sexy. O trivial é maçante. Viva à frivolidade! O que seria do bolo sem a cobertura e as cerejas?

Se você deve ao Dinho...

Quem curte um Pagodinho?(quem não entendeu o trocadilho mande um e-mail que eu vos elucidarei).

Eventualmente vejo alguns amigos relutando para não curtir aquele sonzinho "mela-cueca" que não sai da cabeça, tem ritmo e dá vontade de dançar. Uns enchem o peito para dizer: "Eu gosto é de samba!". Acontece é que há toda uma indústria especializada para a criação de músicas populares que agradem de forma subliminar.

Letra. O tema na maioria esmagadora das vezes é desilusão amorosa, final de relacionamento, paixões & cia. Isso já ajuda para criar um vínculo com o ouvinte, afinal a sociedade inteira já se viu em meio a uma situação dessas.

Arranjo. É todo um preparo, similar à criação dos jingles que querem atingir o consumidor no inconsciente: "Pipoca e guaraná, que programa legal! Só eu e você..." é, amigo, tá ali no mesmo barco. Essas coisas que não saem da cabeça! Cara, acabei de descobrir que eu tinha 3 anos quando passava essa propaganda, puta que o pariu, eu lembro da letra todinha, direitinho! Enfim, são músicos, pessoas que estudaram/estudam música e que sabem sequenciar acordes de forma harmônica a fim de através de notas nos conduzir pelo som.

Propaganda. Veiculação nas rádios com grande número de ouvintes. A chance de você acabar ouvindo sem querer por um veículo transitando, em algum estabelecimento ou na casa do vizinho é bem grande. Programas de auditório, casas de show com preços populares, entrevistas na mídia, comerciais, outdoors, internet... lembrem-se o alvo é a massa: vender muito e pra muitos.

Bola de neve. Um amigo mais inclinado a gostar de pagode começa a disseminar em seu grupo social o novo hit quando o pessoal pega uma carona no carro dele ou estão na sua casa e ficam sem jeito de pedir para mudar de música. Os grupinhos de pagode da esquina começam a tocar as mais pedidas da rádio. Quem ainda não ouviu quer ouvir, conhecer qual é a música que anda fazendo tanto sucesso. A mídia volta a enfocar o grupo por conta do sucesso que anda fazendo...

Para não me estender muito, ocorre essas e outras muitas situações que se somam a essa dita bola de neve. Daí a gente fica ouvindo e cantando até cair no esquecimento. Costumo falar para meus amigos que também gostam de samba que o pagode é a amante e no final a gente sempre acaba voltando para os braços da primeira-dama. Afinal, quem tem competência se estabelece: sambistas que há muito se foram são constantemente lembrados, já os pagodeiros que não lançam músicas novas com frequência acabam caindo no ostracismo. (Vou terminar assim mesmo, hoje estou meio Lya Luft).

Voltei por caqui

Quando era moleque eu tinha uma fixação por caquis. Achava fenomenal alguém fazer uma música dedicada a uma fruta! O cara volta... agora pra ficar, por caqui! Caqui é o seu lugar! Cara eu achava lindo, comia caqui cantando essa música, lembrava do cachorrinho da propaganda da Cofap... até que descobri a letra certa. Lembrei do pessoal lá em casa rindo e eu crente que eles achavam bonitinho eu cantar a música, mas estavam era achando graça da minha confusão. É igual aquela galera que depois de grande descobriu que o símbolo do Carrefour não era um etezinho de gôrro, mas sim uma subliminar letra C.

Enfim, isso foi o que me lembrei ao colocar esse título. Lembrei também agora da confusão que eu fazia nas aulas de redação quando não conseguia diferenciar título de tema e vice-versa, mas isso já é outra história. O motivo desse título é explanar para alguns leitores que não gozam do meu convívio social de forma mais íntima e não tiveram como saber o que foi meu mês de outubro e meu mês de novembro. Interrompi uma sequência de postagens e leituras de blogs porque só tinha um tema em mente e anseiava ser lido por apenas uma pessoa, daí resolvi ocupar meu tempo com outras atividades.

Eu poderia ter citado uma obra do magnífico compositor que foi Candeia antes de me ausentar, mas não ousaria desbotar o brilho das palavras do mestre com coisa deveras medíocre. Em uma de suas letras ele escreveu:

Deixe-me ir
Preciso andar
Vou por aí a procurar
Rir pra não chorar

Quero assistir ao sol nascer
Ver as águas dos rios correr
Ouvir os pássaros cantar
Eu quero nascer
Quero viver...

Se alguém por mim perguntar
Diga que eu só vou voltar
Depois que me encontrar...


Candeia vale um livro, mas deixo aqui uma nota sobre esse carioca de Oswaldo Cruz. Sambista de primeira que teve sua vida marcada por um caso fortuito que o deixou paraplégico, mas como disse Martinho da Vila em um pot-pourri em sua homenagem: "Se Candeia não vai ao samba, o samba vai até Candeia!". Andava desgostoso da vida até que com muita insistência o levaram ao Teatro Opinião. Ao entrar de cadeira de rodas fora aplaudido de pé. Começou a tocar seu violão, de forma calma e gentil até todos ficarem atônitos e silenciosos, e então disparou: "De qualquer maneira, meu amor, eu canto. De qualquer maneira, meu encanto eu vou cantar". Após várias músicas, foi se recolhendo do palco lentamente enquanto a plateia cantava em uníssono esse mesmo verso. Morreu aos 43 anos, todavia, como no caso de outros grandes artistas, a sua obra está sendo perenizada por musicos de variadas gerações.

Fico me perguntando se estou deixando de viver hoje algo que meus filhos irão vir a lamentar pelo meu desleixo. Fico pesaroso ao saber que meu pai não se fazia presente nas rodas de samba dos grandes mestres, da nata da vida boêmia dos tempos de ouro do Rio de Janeiro! Minha mãe ao menos curtia os beatles! Será que meus filhos serão fãs de Nx Zero & amigos? "Pai, não acredito que você não ia aos shows do Forfun!!!". Foi mal, filhão!

domingo, novembro 15, 2009

Que dure enquanto for eterno

Não é a presunção de que o relacionamente fique no mar de rosas pra sempre, mas que se tenha a vontade do "pra sempre" à todo momento. Apesar de chateações, brigas e frustrações. Que se tenha respeito, conversa e amor.

Que seja em meio a jogos de sedução ou a sinceridade que machuca, que se tenha a vontade de ir à frente, de jogar pra ganhar, o time que não joga a toalha diante de um maracanã lotado.

Não quero o time perfeito por ter todos os melhores do mundo em todas as posições, quero o time guerreiro que consegue extrair o melhor de cada um e se superar com a ajuda do outro, com a fome de vitória - eu quero raça!

Não são as viagens à Europa e os jantares à luz de velas no restaurante francês naquele balneário paradisíaco, são as botecadas de meio de semana, o misto quente preparado especialmente-pra-você e o café com suíta.

São os amores que reconhecem a tênue diferença entre o "seja eterno enquanto dure" e o título dessa reflexão. Todavia, entre um e outro, fico com Paulo Leminski nessa:

Objeto
do meu mais desesperado desejo
não seja aquilo
por quem ardo e não vejo

Seja a estrela que me beija
oriente que me reja
azul amor beleza

Faça qualquer coisa
mas pelo amor de Deus
ou de nós dois
seja

terça-feira, novembro 03, 2009

Inveja saudável

Salvo engano, Chico Anísio ou Jô Soares uma vez disse que se rasgava de inveja por não ter escrito Águas de Março.

Hoje li minha Águas de Março. Ou não. É simplesmente um lindo poema que gostei e quis enunciar de forma diferente.

Sem mais delongas:

Sou parte do tudo
O pedaço que é feito de nada
Sou aquilo que você tem mais medo
Por ser o que mais te agrada

Sou uma sombra sólida
Um caminho que não tem rumo
E quando você pensa que me achou
É aí que sumo

Sou as lágrimas da tempestade
Com o choro de trovão
Sou quem te nega um olhar
Mas te entrega o coração

Sou mais do que você pensa
Mas menos do que realmente sou
Sou quem mais acerta
Por ser quem mais errou

Sou só, cheio de amigos
Acompanhado de solidão
Sou o que existe de mais real
Mas que é feito de ilusão

Sou uma peça nesse jogo da vida
Um leigo que sabe de tudo
Sou mais uma cara perdida
Em busca de paz nesse mundo.


Pior que se desconhece a autoria!

Bandeira branca, amor

Irremediavelmente sem forças. A própria personificação moderna da figura épica que era detentor de tamanha força mesmo antes de nascer, pois irrompera de dentro de mulher estéril e veio a tomar forma de um homem magnífico digno de ter seus feitos mantidos à posteridade no livro dos Juízes: Sansão.

Certa vez rasgara um leão moço ao meio, acabara com um exército de homens e também com uma imensa construção usando seus próprios braços. Sua força era dada por seu deus e mantida por este desde que permanecesse a cultivar suas madeixas. Após apaixonar-se e confiar em Dalila, esta o levou à perdição e morte.

Este não é um bilhete póstumo, seu corpo não está morto. Entretanto, sua alma está caminhando vestida de branco segurando suas havaianas em uma das mãos à beira de alguma praia bonita digna de final de filme, está de licença médica do serviço. Enquanto isso, prega peças a si próprio: raspou todos os cabelos de sua cabeça. O Sansão pós-moderno dos confins do Rio de Janeiro incorporou sua algoz e invadiu a história de outra personagem e jogou-se à cova dos leões. Abriu mão de sua força, abortou a fuga e sucumbiu à pena do tempo. Seus advogados acreditam que ele sairá em breve devido a seu bom histórico e se deveras apresentar bom comportamento.

Seus conhecidos mal o reconhecem sem seu arranjo capilar, seus amigos, e ele próprio, o confundem com o leão que outrora fora rasgado ao meio.

Em uma tarde preguiçosa de sol morno e vento leve, daqueles que nos dizem que só pode ser domingo, em pleno dia de finados, Sansão que cansara de fazer a parte de Judas contra si próprio, em seu último ato relembra Dalva de Oliveira. Diz a seu coração que não pode mais, ergue bandeira branca e pede paz.