quinta-feira, outubro 29, 2009

Comentários internet afora vol. 2(?)

Estou há quatro anos tentando encontrar tempo e motivação para personalizar o layout do blog. Agora estou tentando montar uma barra lateral com a lista dos blogs que sigo, mas toda vez que vou entrar neles para pegar os links os danados estão cheios de atualizações... aí acabam comigo!

Quem não entender, veja o http://www.memoriavazia.blogspot.com/ :

"Vejo muito de mim, o que penso, o que sinto, em você. Apesar de não termos meios em comum, pessoas ou cotidiano. A gente defende nossos pontos de vista de forma casuísta. Me surpreendi fazendo conjecturas sobre o que você disse a respeito de pessoas de verdade enfurnadas em casa longe do nosso raio de alcance, envolvimento, enquanto subia a escadaria da faculdade até a coordenação. Fora de contexto assim mesmo. Imaginei um encontro regional de pessoas interessantes. Mesmo que os convites fossem espalhados subliminarmente em filmes franceses de segunda, em livros de autores ótimos conhecidos por uma minoria ou em blogs escondidos na página 62 de 398 em uma busca do google, os interessantes só teriam mais um objeto para levantar hipóteses e formular teorias. Talvez seja a seleção natural, um balanceamento dos opostos para gerar a média e não termos uma sociedade dividida por casais perfeitos e casais conformados. Eu que sou homem já estou acostumado com a aversão do sexo masculino por essa prática. É só você ir ao futebol de algum amigo seu e vai ouvir o pessoal rechaçando a "panela", aquele time formado pelos melhores jogadores e que mesmo ganhando tudo não proporcionam diversão pra ninguém - pra eles fica muito fácil e para os outros fica frustrante.
Já li em algum lugar que eu poderia ter uma mente feminina em alguns aspectos. Mas onde diabos está escrito que a mulher tem que ser a romântica e o homem o putão? A sociedade atual não permite rótulos, a gente tá aqui pra viver da forma que acha mais conveniente. Ao mesmo tempo que penso em me envolver só para ensinar algo enquanto me delicio com um lindo par de coxas, vejo que nunca me envolvi com alguém que eu não tenha cogitado viver longos anos e o quanto gozei, aprendi e sofri. Enquanto não aprendo a ser cínico e um diabo passivo e cômodo, vou continuar a dar com burros n'agua e lamber os dedos após a mesa ser retirada.
Um abraço!"

quarta-feira, outubro 28, 2009

Quando me amei de verdade

Tenho transcrito mais do que criado. Estou em uma fase de ouvir mais do que falar. Sou grato pelo o que aprendi, pelo o que me fez rir e pelo o que me fez chorar.

Penso na forma tão leviana que as pessoas teimam em dizer que se amam. Blefes que tentam esconder a angústia da incerteza e da insegurança. Não é de todo a falta de autoestima, mas estimam o objeto errado. Amam seus músculos, seus bens, suas conquistas... estudam formas de transparecer seu portento displicentemente para se sentirem bem com a expectativa da admiração, mesmo que anônima.

Transcrever algo que nos toca transcende o hábito de repassar e-mails, compartilhar ideias ou ajudar a difundir uma corrente. Fiquei feliz ao me identificar com essas palavras e vislumbrar mudanças em minhas atitudes, minha personalidade, de forma tão significante praticamente de um dia para outro. Afinal, quando que largamos os brinquedos de infância? Quando foi a última vez que sua mãe te deu banho? Quando você largou a chupeta? Simplesmente acontece. E que delícia esse cheiro, esse gosto do porvir!



Quando me amei de verdade, compreendi que em qualquer circunstância eu estava no lugar certo, na hora certa, no momento exato. E então, pude relaxar.

Hoje sei que isso tem nome Auto-estima.
Quando me amei de verdade, pude perceber que minha angústia, meu sofrimento emocional não passam de um sinal de que estou indo contra minhas verdades.
Hoje sei que isso é Autenticidade.
Quando me amei de verdade, parei de desejar que a minha vida fosse diferente e comecei a ver que tudo o que acontece contribui para o meu crescimento.
Hoje chamo isso de Amadurecimento.
Quando me amei de verdade, comecei a perceber como é ofensivo tentar forçar alguma situação ou alguém apenas para realizar aquilo que desejo, mesmo sabendo que não é o momento ou a pessoa não está preparada, inclusive eu mesmo.
Hoje sei que o nome disso é Respeito.
Quando me amei de verdade comecei a me livrar de tudo que não fosse saudável Pessoas, tarefas, tudo e qualquer coisa que me pusesse para baixo. De início minha razão chamou essa atitude de egoísmo.
Hoje sei que se chama Amor-próprio.
Quando me amei de verdade, deixei de temer o meu tempo livre e desisti de fazer grandes planos, abandonei os projetos megalômanos de futuro. Hoje faço o que acho certo, o que gosto, quando quero e no meu próprio ritmo.
Hoje sei que isso é Simplicidade.
Quando me amei de verdade, desisti de querer sempre ter razão e, com isso, errei menos vezes.
Hoje descobri a Humildade.
Quando me amei de verdade, desisti de ficar revivendo o passado e de me preocupar com o futuro. Agora, me mantenho no presente, que é onde a vida acontece.Hoje vivo um dia de cada vez.
Isso é Plenitude.
Quando me amei de verdade, percebi que minha mente pode me atormentar e me decepcionar. Mas quando a coloco a serviço do meu coração, ela se torna uma grande e valiosa aliada.
Tudo isso é Saber viver!!!

terça-feira, outubro 27, 2009

Viver é recordar e vice-versa

Me pediram o link de um texto que escrevi sobre amizade há alguns anos e acabei achando outras duas pérolas que resolvi mandar um "salve" por aqui.

Me pediram o da AMIZADE, acabei achando o Que homem nunca... e o terceiro, que não é de autoria minha, mas li enquanto fazia um dos ítens que listei no "que homem nunca": pedir a "Capricho" da amiga emprestada!

Muito interessante, do Antonio Prata:

O SALTO
(Antonio Prata)

A gente não tem como saber se vai dar certo. Talvez, lá adiante, haja uma mesa num restaurante, onde você mexerá o suco com o canudo, enquanto eu quebro uns palitos sobre o prato -- pequenas atividades às quais nos dedicaremos com inútil afinco, adiando o momento de dizer o que deve ser dito. Talvez, lá adiante: mas entre o silêncio que pode estar nos esperando então e o presente -- você acabou de sair da minha casa, seu cheiro ainda surge vez ou outra pelo quarto –, quem sabe não seremos felizes? Entre a concretude do beijo de cinco minutos atrás e a premonição do canudo girando no copo pode caber uma vida inteira. Ou duas.
Passos improvisados de tango e risadas, no corredor do meu apartamento. Uma festa cheia de amigos queridos, celebrando alguma coisa que não saberemos direito o que é, mas que deve ser celebrada. Abraços, borrachudos, a primeira visão de seu necessaire (para que tanto creme, meu Deus?!), respirações ofegantes, camarões, cafunés, banhos de mar – você me agarrando com as pernas e tapando o nariz, enquanto subimos e descemos com as ondas -- mãos dadas no cinema, uma poltrona verde e gorda comprada num antiquário, um tatu bola na grama de um sítio, algumas cidades domesticadas sob nossos pés, postais pregados com tachinhas no mural da cozinha e garrafas vazias num canto da área de serviço. Então, numa manhã, enquanto leio o jornal, te verei escovando os dentes e andando pela casa, dessa maneira aplicada e displicente que você tem de escovar os dentes e andar ao mesmo tempo e saberei, com a grandiosa certeza que surge das pequenas descobertas, que sou feliz.
Talvez, céus nublados e pancadas esparsas nos esperem mais adiante. Silêncios onde deveria haver palavras, palavras onde poderia haver carinho, batidas de frente, gritos até. Depois faremos as pazes. Ou não?
Tudo que sabemos agora é que eu te quero, você me quer e temos todo o tempo e o espaço diante de nossos narizes para fazer disso o melhor que pudermos. Se tivermos cuidado e sorte – sobretudo, talvez, sorte -- quem sabe, dê certo? Não é fácil. Tampouco impossível. E se existe essa centelha quase palpável, essa esperança intensa que chamamos de amor, então não há nada mais sensato a fazer do que soltarmos as mãos dos trapézios, perdermos a frágil segurança de nossas solidões e nos enlaçarmos em pleno ar. Talvez nos esborrachemos. Talvez saiamos voando. Não temos como saber se vai dar certo -- o verdadeiro encontro só se dá ao tirarmos os pés do chão --, mas a vida não tem nenhum sentido se não for para dar o salto.

Lindo. Lembrei de outro que dizem que é do Drummond, mas ele não me disse se foi ele mesmo que escreveu:

Viver não dói

Definitivo, como tudo o que é simples.
Nossa dor não advém das coisas vividas,
mas das coisas que foram sonhadas
e não se cumpriram.

Por que sofremos tanto por amor?

O certo seria a gente não sofrer,
apenas agradecer por termos conhecido
uma pessoa tão bacana,
que gerou em nós um sentimento intenso
e que nos fez companhia por um tempo razoável,
um tempo feliz.

Sofremos por quê?

Porque automaticamente esquecemos
o que foi desfrutado e passamos a sofrer
pelas nossas projeções irrealizadas,
por todas as cidades que gostaríamos
de ter conhecido ao lado do nosso amor
e não conhecemos,
por todos os filhos que
gostaríamos de ter tido junto e não tivemos,
por todos os shows e livros e silêncios
que gostaríamos de ter compartilhado,
e não compartilhamos.
Por todos os beijos cancelados,
pela eternidade.

Sofremos não porque
nosso trabalho é desgastante e paga pouco,
mas por todas as horas livres
que deixamos de ter para ir ao cinema,
para conversar com um amigo,
para nadar, para namorar.

Sofremos não porque nossa mãe
é impaciente conosco,
mas por todos os momentos em que
poderíamos estar confidenciando a ela
nossas mais profundas angústias
se ela estivesse interessada
em nos compreender.

Sofremos não porque nosso time perdeu,
mas pela euforia sufocada.

Sofremos não porque envelhecemos,
mas porque o futuro está sendo
confiscado de nós,
impedindo assim que mil aventuras
nos aconteçam,
todas aquelas com as quais sonhamos e
nunca chegamos a experimentar.
Como aliviar a dor do que não foi vivido?
A resposta é simples como um verso:
Se iludindo menos e vivendo mais!!!

A cada dia que vivo,
mais me convenço de que o
desperdício da vida
está no amor que não damos,
nas forças que não usamos,
na prudência egoísta que nada arrisca,
e que, esquivando-se do sofrimento,
perdemos também a felicidade.

A dor é inevitável.
O sofrimento é opcional.
Carlos Drummond de Andrade

quinta-feira, outubro 22, 2009

É... acordei e constatei que a vida acabou, o sol não saiu do lugar, o vento não parou de soprar e o mundo não parou de girar.

Amigos aconselhando, familiares consternados e coração apertado. Situação difícil que a gente sabe que passa, mas dói pra cacete. Pensamentos correndo à toda, a gente começa a achar que tudo que dizem ou fazem é um sinal, tudo que é música parece que fora escrita em homenagem ao nosso momento.

Mas se é pra escolher uma música, vou de "Sentimental demais" do saudoso Nelson Gonçalves, passando por "Faz tempo" da baianíssima Ivete e termino com "O que é, o que é" do mestre Gonzaguinha, afinal,
"E a vida...
Ela é maravilha
Ou é sofrimento?
Ela é alegria
Ou lamento?
O que é? O que é?
Meu irmão...

(...)

Você diz que é luxo e prazer
Ele diz que a vida é viver
Ela diz que melhor é morrer
Pois amada não é
E o verbo é sofrer..."


Enquanto escrevo este a Ivete tá cantando em meu ouvido:

"No céu a Lua
Que um dia eu te dei...

Pra brilhar
Por onde você for
Me queira bem
Durma bem
Meu amor..."

Sem temer a pieguice extrema concluo com Drummond sabendo que daqui a algum tempo irei reler isso aqui fazendo chacota dessa sensação de final de novela que encharca meu peito hoje:

Mundo mundo vasto mundo,
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.

Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo.

segunda-feira, outubro 12, 2009

A pseudo-arte do cinismo

"Adj. 1. Relativo à seita filosófica dos que desprezavam as conveniências e fórmulas sociais." - Assim que o Michaelis começa descrevendo o vocábulo. Tal seita fora fundada por um discípulo de Sócrates 400 anos antes de Cristo e tinha como princípio escarnecer e desprezar o estilo de vida de outros que não compartilhavam do mesmo desprendimento.

"Imoral e impudico"- os santos exclamavam a plenos pulmões diante das obras de Nelson Rodrigues, diabo lúcido e impassível, ou anjo pornográfico, como o próprio se descreveu. Um gênio do dois mais dois que radiografava a alma das mocinhas e amaldiçoava a felicidade eterna dos noivinhos cegos pelas historinhas infantis onde A vida como ela é vive entre os monstros da floresta, enfeitiça maçãs e alimenta seus cães com corações partidos. Dizem que nasceu velho, com pouca boca e quatro olhos. Além de assustar incautos que ousavam tomar nota de suas obras, apoiara a ditadura, escrevera sobre mães que idolatram os filhos, pais que os renegam, a empregada doméstica estereotipada, a força do dinheiro e assuntos afins, poesia de asfalto que excita e apavora.

Nos dias em que não se sabe se o amor está superestimado ou deveras muito banalizado, só tem consciência que cresceu quem já se viu em meio a uma tragédia rodrigueana com direito a amor louco, traições, desilusões e condescendências.

"2. Que ostenta princípios e atos imorais." - Continua o dicionário, dissecando o âmago dos seres humanos, que ao atingirem a maturidade entendem sua natureza e aprendem a viver como cães selvagens. Sim, que inventem outro vocábulo para o fiel animal que apesar de agir por instinto, beija a mão que lhe afaga: de origem grega, kynikós, relativo à cães, também é de onde deriva o adjetivo "cínico".

Tome a pílula vermelha do cinismo e siga o coelho até o final da sua vida ilusória. A infelicidade é como uma bactéria, cada dia se descobre novos lugares em que ela se prolifera apesar do ambiente totalmente inóspito, seja dentro de um vulcão, seja na exosfera, dentro de um casamento feliz ou de uma vida abonada.

A ignorância é sim uma benção, mas a lucidez é um caminho sem volta. Muitos são os nostálgicos que recorrentemente lembram dos bons tempos da simplicidade da alma, tentam disseminar o niilismo, pensam que conseguirão se enganar se virem alguém concordar que é possível voltar a ser cru e inocente. "Bendito seja eu por tudo o que não sei, gozo tudo isso como quem sabe que há o sol", disse Fernando Pessoa.

Na obra "Aprendendo a viver" de Sêneca, há uma parte especial em que este discorre sobre o erro capital dos que insistem em mensurar a felicidade:

Vou dizer-te qual a origem donde provém este erro: da ignorância de que o que caracteriza a vida feliz é a sua unidade. É a qualidade, não a dimensão, que grangeia à vida esse supremo estado. Por isso mesmo, a vida feliz é simultaneamente longa e breve, difusa e limitada, disseminada por muitos lugares, por muitas áreas, e concentrada num único ponto. Quem avalia a felicidade em números, medidas e partes está-lhe por isso mesmo roubando o que ela tem de melhor. E o que há de melhor na felicidade do que a sua plenitude? Imagino eu que toda a gente pára de comer e de beber quando está saciada. Este come mais, aquele come menos; mas que importa isso se ambos se sentem satisfeitos? Este bebe mais, aquele bebe menos; mas que importa isso se ambos mataram a sede? Este viveu mais anos, aquele viveu menos; isso não tem importância desde que a provecta idade do primeiro e os breves anos do outro os tenham feito igualmente felizes. Aquele a quem tu chamas "menos feliz" não é de fato feliz, porquanto este predicado não é susceptível de conhecer gradação.

Aos cônscios protagonistas do dia-a-dia resta a loucura e a incessante busca de colecionar efêmeras gotas de felicidade, porque, afinal, "isto é Bossa Nova, isto é muito natural".